DEBATE: DROGAS, FAMÍLIA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO

O papel dos pais: por Elmo Portella (advogado e Ex-Presidente do conselho Estadual de Entorpecentes do RJ).

Entrevista concedida ao Jornal “O Dia”, na Coluna “Opinião”, em 29 de novembro de 1997.

Em geral achamos que o consumo de drogas é o problema de outras famílias e jamais afetará nossos lares. Mas a dura realidade nos pega de surpresa e, de repente, nos deparamos com uma vítima em nosso círculo familiar. Então, procuram-se culpados. Surgem acusações mútuas. O doente é agredido. Sua autoestima é devastada pelo sentimento de culpa. E toda a família sofre.

A falta de informação tem levado muita gente ao desespero, agravando o problema que atinge indiscriminadamente todas as classes sociais. Obsessão, depressão, ansiedade, compulsão, negação e egocentrismo são os sintomas básicos da doença. Eis o quadro favorável ao seu desenvolvimento:

a) Onde impera o individualismo do “cada um por si”;
b) Onde a importância das pessoas está no que elas têm a oferecer e não nas suas carências;
c) Onde a cobrança, o confronto e a disputa são a base dos relacionamentos;
d) Onde todos se comportam como se fossem deuses cruéis, desejosos de que suas vontades se cumpram a qualquer preço;
e) Onde os valores espirituais elevados, como o amor, respeito, consideração, integridade, confiança, fraternidade e gratidão não têm vez.

Este é o mundo de hoje: a sociedade cria todas as condições para o aumento do uso de drogas, proibidas ou não. Mas só quando rebentam escândalos como o do Planet Hemp é que essa mesma sociedade se apercebe de como a doença se disseminou e de como deixou de ser um caso de polícia.

Nos lares, os pais têm um papel fundamental. Cerca de 80% dos casos de dependência química surgem a partir de desajustes familiares. Daí a relevância da informação e orientação corretas. Famílias unidas em torno de valores éticos cristãos genuínos, constituem-se no mais eficaz instrumento na prevenção ao uso de drogas. Nosso desafio maior, portanto, é o fortalecimento das famílias, base da sociedade e, consequentemente, da formação do indivíduo.

Precisamos investir na restauração do eu enfermo, que gera relações também doentias. Precisamos estimular o advento de uma profunda transformação espiritual, que não se confunde com o volume das práticas religiosas, mas que leva à corajosa mudança de postura no relacionamento com Deus e com o próximo e do indivíduo consigo mesmo.

Só assim será possível vencer a dependência química.